Estaremos mortos, mas antes cuspiremos no
chão e abraçaremos desesperadamente o que vier ao nosso encontro. A origem é um
amontoado de fezes, de náusea e de lamentações. Estaremos nus e mortos –
massacraremos as flores e roeremos nossos dentes, a beleza, a lágrima. A chuva
não cairá sobre nossos corpos indefesos – estaremos guardados pelo segredo e
pela música. Nosso corpo e nossa consciência é um câncer cravado no corpo Dele.
Ele é uma besta feroz – porém mais belo e mais terrível. Ele precisa de mim,
porque me ama desesperadamente. Eu O renego assim como renego a miséria e o
absurdo – mesmo que eu cuspa em Sua face e mije em Suas entranhas, sei que numa
noite qualquer Ele me arrebatará ao abismo – simplesmente porque Ele precisa de
minha destruição, de meu mijo e de meu cuspe, pois, como uma prostituta triste
e sem amor, Ele me ama desesperadamente.
Antes, quando chegava a
primavera, andávamos descalços pela enxurrada. Hoje já é outono e não se ouve o
barulho das crianças trágicas na noite. Mas abriremos todas as portas e todas as janelas para que o sol brilhe no
chão batido. Derrubaremos todos os móveis, mergulharemos na terra, entre os
campos e as águas. Passaremos noites de vigília e perceberemos o cheiro forte
de nossas vestes amassadas. Sentiremos frio e então acariciaremos nosso sexo
como quem massacra uma flor. Ele mija sobre mim e eu vomito tudo no banheiro –
Então eu corro pela avenida, chorando desesperadamente a beleza, chorando as
lamentações, os flagelos, chorando a cidade, seus heróis, suas vítimas e suas
crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário ou mensagem para o autor.