quarta-feira, 21 de novembro de 2012

AS LAMENTAÇÕES


Estaremos mortos, mas antes cuspiremos no chão e abraçaremos desesperadamente o que vier ao nosso encontro. A origem é um amontoado de fezes, de náusea e de lamentações. Estaremos nus e mortos – massacraremos as flores e roeremos nossos dentes, a beleza, a lágrima. A chuva não cairá sobre nossos corpos indefesos – estaremos guardados pelo segredo e pela música. Nosso corpo e nossa consciência é um câncer cravado no corpo Dele. Ele é uma besta feroz – porém mais belo e mais terrível. Ele precisa de mim, porque me ama desesperadamente. Eu O renego assim como renego a miséria e o absurdo – mesmo que eu cuspa em Sua face e mije em Suas entranhas, sei que numa noite qualquer Ele me arrebatará ao abismo – simplesmente porque Ele precisa de minha destruição, de meu mijo e de meu cuspe, pois, como uma prostituta triste e sem amor, Ele me ama desesperadamente.

Antes, quando chegava a primavera, andávamos descalços pela enxurrada. Hoje já é outono e não se ouve o barulho das crianças trágicas na noite. Mas abriremos todas as portas e  todas as janelas para que o sol brilhe no chão batido. Derrubaremos todos os móveis, mergulharemos na terra, entre os campos e as águas. Passaremos noites de vigília e perceberemos o cheiro forte de nossas vestes amassadas. Sentiremos frio e então acariciaremos nosso sexo como quem massacra uma flor. Ele mija sobre mim e eu vomito tudo no banheiro – Então eu corro pela avenida, chorando desesperadamente a beleza, chorando as lamentações, os flagelos, chorando a cidade, seus heróis, suas vítimas e suas crianças.



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