terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

POEMAS PARA MEUS FILHOS 1

*Poema publicado no livro O guardador de abismos

A PROCURA DE UM POEMA
A Renato Batista Ventura, meu filho.


1.
Quando o menino nasceu
ele era pequeno e único
com olhos de morenas luas.

Não chore, criança.
Don’t cry.

Você ficou moço, meu filho.
Criou barba, não é mais criança.


Quero lhe dar o vento,
mas minha voz perde-se no vento.

Não, meu filho, não lhe contarei a dura vida
que aprendeu a conhecer
pelas ruas do mundo, pelos escritórios, nas demandas,
e na safadeza dos homens.
Aprendeu as coisas de família
e se lançou no mundo, vasto mundo,
como diria o poeta Drummond.

2.

Filho,
o mais importante deixarei para você:
o chão salpicado de estrelas,
a rua sem porteira, nem eira nem beira,
um violão e a minha canção.

Bobagens que a gente escreve,
meu filho, somente pela mania de escrever,
para dizer que você é meu filho bem amado
igual ao primogênito.

Renato, meu filho, escute-me com atenção:
a manhã radiante nem sempre é a manhã do pássaro
que canta a canção do eterno.

A manhã também é maçã vermelha
e sangrenta como a vida.


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