*Poema publicado no livro O guardador de abismos
A PROCURA DE UM POEMA
A Renato Batista Ventura, meu filho.
Quando o menino nasceu
ele era pequeno e único
com olhos de morenas luas.
Não chore, criança.
Don’t
cry.
Você ficou moço, meu filho.
Criou barba, não é mais criança.
Quero lhe dar o vento,
mas minha voz perde-se no vento.
Não, meu filho, não lhe contarei a dura vida
que aprendeu a conhecer
pelas ruas do mundo, pelos escritórios, nas demandas,
e na safadeza dos homens.
Aprendeu as coisas de família
e se lançou no mundo, vasto mundo,
como diria o poeta Drummond.
2.
Filho,
o mais importante deixarei para você:
o chão salpicado de estrelas,
a rua sem porteira, nem eira nem beira,
um violão e a minha canção.
Bobagens que a gente escreve,
meu filho, somente pela mania de escrever,
para dizer que você é meu filho bem amado
igual ao primogênito.
Renato, meu filho, escute-me com atenção:
a manhã radiante nem sempre é a manhã do pássaro
que canta a canção do eterno.
A manhã também é maçã vermelha
e sangrenta como a vida.
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