sexta-feira, 29 de agosto de 2014

MENALTON BRAFF COMENTA O LIVRO DE TONINHO VENTURA

Toninho vê o mundo

Menalton Braff e Toninho
Uma das graças da vida é podermos quase todos os dias fazer alguma coisa pela primeira vez. Assim nos renovamos no que fazemos.

Já não sei quantos prefácios e orelhas, quantas resenhas de livros assinei ao longo da vida. Nunca tive a preocupação de colecionar ou organizar o que escrevo, como fazem alguns amigos meus. Não me dou tanta importância assim. Mas imagino que tenha sido um razoável número de textos. Pois o que estou escrevendo neste momento (uma resenha) é algo pela primeira vez. Jamais imaginei me deparar com o livro de poemas de um poeta que ainda não ultrapassou os dez anos de vida.

Isso é surpreendente.

Dizer que o Antonio P. Ventura é filho de um casal de poetas ajuda a entender o fenômeno, mas não explica tudo. Tudo bem que a Débora, sua mãe, e o Antonio Ventura, o pai, sejam poetas, mas conheço muito filho de poetas que preferem os esportes, os mistérios tecnológicos, e outras coisas mais práticas da vida. Imagino que o Toninho não teria tido o contato que teve com a arte da palavra, pelo menos nesta fase da infância. Mas isso é apenas um dado dos incontáveis elementos de que se faz um poeta.

Seu primeiro livro, Toninho, o poeta A-Ventura, aqui na minha frente, me olha e me desafia. Por não decifrá-lo, posso até mesmo ser devorado. Mas como decifrar tal amor pelas palavras, de um menino com sua idade, que diz coisas como “A chuva é boa para muitas coisas:/ dormir, contar histórias de terror ou não.” Ou “Ó pássaro sem limites de tempos e espaços!”  

Quem conhece o Toninho, sabe que ele não é um adulto de tamanho reduzido. Ele tem o riso das crianças, gosta de brincar como todas as crianças, fala como criança, mas tem uma coisa que nem toda a criança tem: ele ama a leitura. Sua mãe costuma dizer que é um devorador de livros. Desde clássicos como a Odisseia, de Homero e O Inferno, de Dante (em forma reduzida e facilitada, evidentemente) até autores contemporâneos (sem facilitação alguma), ele devora. E isso está em sua poesia, ou seja, quando a criança pega uma caneta, ela se transforma e passa a ver o mundo com um acúmulo de conhecimentos muito raro de se encontrar em sua idade.

Mas tratando do livro mais diretamente, notam-se duas linhas temáticas bem distintas. De um lado, e como predominância, seu contato amoroso com a natureza. Chuva, lua, sol, as estações, o sabiá são todos assuntos recorrentes em sua poética. A criança que se fascina com aquilo que vê, com aquilo que lhe dão os sentidos. É uma poesia mais sensorial, mas ligada à percepção direta do mundo.
Em menor quantidade, não menos importante, contudo, surgem temas reflexivos como a passagem do tempo, e o próprio fazer poético, em metalinguagem de rara beleza, como este
O autor
O autor
diz poemas
que são cisnes
maravilhosos
que vivem
no lago.

Felizes.

O Toninho já vê o mundo com os olhos da poesia. Ele é uma estrela que ilumina o céu de Mococa, mas é esperar um pouco mais porque uma noite destas vai aparecer no firmamento para que o país inteiro o possa ver.

                                                                             Menalton Braff


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