(*)Ely
Vieitez Lisboa
Conheci,
há muitos anos, o Menino. Ele era diferente, meio solitário, cismarento e
fascinado com as palavras. Quando ouvia um termo novo, que ele desconhecia, ficava
de olhos meio parados, sonhando. Ali nascia o Catador de Palavras e ele as
amealhava como um tesouro.
Muito
jovem ainda, iniciado nas leituras de grandes poetas, ele começou a produzir
seus primeiros poemas. Algum tempo depois era um Poeta. Aí começou a lenda.
Participava de todos os concursos literários na época e ganhava sempre.
Na
biografia dos poetas, há uma dicotomia entre o cidadão, com CPF, RG e o poeta.
Quando se lê um belo poema do Mago de Itabira, não é fácil lembrar do autor,
como personagem poética e do cidadão civil, funcionário público, casado, pai.
Parecem duas criaturas diversas, irreconciliáveis.
Nisso
também, a história do jovem poeta de Ribeirão Preto, é pitoresca. Na juventude,
ele, bonito como um príncipe, cabelos nos ombros, um romântico de outras eras,
ousou viver de poesia. Perambulava pelas portas dos teatros, em São Paulo e, a
partir de 1972, no Rio de Janeiro, vendendo seus poemas mimeografados, vivendo
quase de brisa, mas participando ativamente da vida cultural da época.
Um
dia, o cidadão reclamou seus direitos. E nosso poeta cortou os cabelos,
ingressou no sistema. Casou-se, vieram os filhos. Prestou concursos, trabalhou
nos Correios, alçou cargos importantes. Mas ele queria mais. Estudou muito e
chegou a Juiz, em 1991. Quando eu soube da novidade, escrevi um artigo para
ele. Morrera nosso Poeta? Felizmente não. Foi para Mococa, fundou o Grupo
Início de Poetas, continuou conciliando as duas vidas, então ao lado de sua
Musa, Débora Soares Perucello Ventura. Em 2011 publicou O Catador de Palavras,
com enorme sucesso, hoje é membro da ARL (Academia Ribeirãopretana de Letras) e
da União Brasileira de Escritores. O Guardador de Abismos, Ed. Topbooks, 2014,
segundo livro de nosso Poeta é surpreendente. Traz o precioso prólogo de Carlos
Nejar, da ABL, orelhas, contracapa com citações excelentes de autores famosos,
tudo valorizando a obra que, realmente, tem fascinado os leitores.
Aparentemente são textos em prosa e alguns poemas. Há que se enfatizar,
contudo, uma característica marcante: Em O Guardador, é o poeta amadurecido,
enfrentando bravamente a crueza da realidade, mas sem perder a esperança, a
alegria, em uma metafísica lispectoriana.
O
que valoriza, sobremaneira, a obra O Guardador de Abismos, sabiamente citado
pelo grande Carlos Nejar é o conceito feliz de “prosopoema” ou prosa poética.
Impossível, nos textos de Antônio Ventura, conceituar exatamente o que é prosa
ou poema, tudo ungido do mais puro lirismo.
Na
primeira orelha do livro, Ivan Junqueira, da ABL, cita algo que enobrece O
Guardador de Abismos, de A.V: “Assim como ocorre nos poemas em prosa, de
Baudelaire, percebe-se em O Guardador de Abismos uma nítida despreocupação,
seja com o ritmo, seja com a rima, e, ao contrário, uma incessante busca por
aqueles contrastes que tentam adaptar sua prosa “aos movimentos líricos da
alma” e “as ondulações do devaneio”.
Os
textos reunidos sob o subtítulo de Minha Bela, para Débora Soares Perucello
Ventura, são Cânticos de Amor, que vão muito além da realidade, um sentimento
excelso, meio mítico, consubstanciado em um lirismo maior. Mas a vida flui, com
sua inexorabilidade “saber é o grande horror”. Diante da lucidez, da qual não
se foge, o Amor surge como possibilidade única de realização.
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