*O poema a seguir está no livro O GUARDADOR DE ABISMOS que será lançado dia 17 de maio na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro. Clique no link para acessar o evento no Facebook e deixe sua mensagem. https://www.facebook.com/events/622376744525821/
ABRIL
Um pequeno vento frio e úmido passeia nesta manhã
de abril trazendo presságios de inverno. Pela janela onde escrevo, vejo um muro
de blocos, telhados, e à beira do muro, no quintal, dois mamoeiros. Carregados
de frutos, tronco, talos ocos e folhas verdes como lanças.
Nas ruas, mais longe, alguns cães
latem.
Um jovem pardal salta sobre o muro, dá
pulinhos e vai embora. Na linha férrea, um comboio passa, perto de casa, em
frente na avenida carros também passam, uma janela se abre, uma réstia de sol
sobre a mesa onde escrevo me invade e a cidade acorda.
Ainda um pequeno vento frio e úmido
passeia na manhã acordada, agora mais clara e mais nítida.
Manhã de abril.
2. AINDA ABRIL
Não posso sofrer, só porque nesta tarde
de abril ainda chove e o dia todo está cinzento. Não posso sofrer, porque uma
janela ainda se abre e o vento balança o verde das árvores e o verde dos
frutos, não devo sofrer, porque os pingos vão caindo sobre a água em cima do
cimentado e, quando eles tocam água na água, tudo respinga de maneira
brilhante.
Não posso sofrer, porque ainda é abril.
3. ABRIL AINDA
Ainda é abril.
A mesa onde escrevo é amarela, mas a
tarde através da janela é cinza, e chove. Um vento úmido e confortavelmente
frio entra em pequenas rajadas pela janela e pela porta aberta.
A tarde é de abril e parece antiga.
Como antigos somos nós, que não envelhecemos como as chuvas, como o vento que
sempre é vento.
A tarde de abril está úmida e grávida.
Dois verdes mamoeiros estão carregados, no quintal, perto do muro de concreto.
Desde criança conheço mamoeiros e a história continua em seus talos verdes,
suas folhas pontiagudas como espadas.
Um cão late em frente, perto da
avenida. Alguns outros respondem. Também desde criança conheço os cães e até
hoje são os mesmos. E latem na tarde de abril, inconsoláveis.
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