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Ao concluir a leitura de O guardador de abismos, do poeta
paulista Antonio Ventura, a primeira pergunta
que me ocorre é a seguinte: a que gênero literário de nosso tempo pertenceriam esses
textos? Inclino-me aqui a considerá-los como tangenciais à categoria algo evanescente
da prosa poética ou à do poema em prosa. Em carta dirigida a Arsène Haussaye, pergunta
o autor de As flores do mal: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou
com o milagre de uma prosa poética musical, sem ritmo e sem rima, bastante
maleável e bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos
da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”
Creio que foi isso, acima de tudo, o que pretendeu Antonio
Ventura em seus textos, nos quais avulta uma indisfarçada obsessão pela
fugacidade do tempo, pelos desmandos do vento, pela intensa prática
intertextual (Drummond, Pessoa, João Cabral, García Lorca, Heráclito, Clarice
Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cervantes) e pelo branco, essa não-cor na
qual se entrelaçam todas as cores e que, na Commedia dantesca, dá origem àquela
intolerável luz que banha a sua metáfora do branco. Assim como ocorre nos
poemas em prosa de Baudelaire, percebe-se em O guardador de abismos uma nítida
despreocupação seja com o ritmo, seja com a rima, e, ao contrário, uma
incessante busca por aqueles contrastes que tentam adaptar sua prosa “aos
movimentos líricos da alma” e “às ondulações do devaneio”.
IVAN
JUNQUEIRA
da Academia
Brasileira de Letras
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