segunda-feira, 21 de abril de 2014

OS ABISMOS DA PROSA POÉTICA

Convidamos todos vocês para o lançamento, dia 7 de maio,
 no Rio de Janeiro. Os detalhes estão no convite acima
Ao concluir a leitura de O guardador de abismos, do poeta paulista Antonio Ventura, a primeira pergunta que me ocorre é a seguinte: a que gênero literário de nosso tempo pertenceriam esses textos? Inclino-me aqui a considerá-los como tangenciais à categoria algo evanescente da prosa poética ou à do poema em prosa. Em carta dirigida a Arsène Haussaye, pergunta o autor de As flores do mal: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética musical, sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”
Creio que foi isso, acima de tudo, o que pretendeu Antonio Ventura em seus textos, nos quais avulta uma indisfarçada obsessão pela fugacidade do tempo, pelos desmandos do vento, pela intensa prática intertextual (Drummond, Pessoa, João Cabral, García Lorca, Heráclito, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cervantes) e pelo branco, essa não-cor na qual se entrelaçam todas as cores e que, na Commedia dantesca, dá origem àquela intolerável luz que banha a sua metáfora do branco. Assim como ocorre nos poemas em prosa de Baudelaire, percebe-se em O guardador de abismos uma nítida despreocupação seja com o ritmo, seja com a rima, e, ao contrário, uma incessante busca por aqueles contrastes que tentam adaptar sua prosa “aos movimentos líricos da alma” e “às ondulações do devaneio”.

IVAN JUNQUEIRA
da Academia Brasileira de Letras



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