segunda-feira, 12 de março de 2012

OUTRORA


Ilustração: Antonio Ventura


      Nunca um dia é igual ao outro. Outrora, se bem me lembro, as mangas esparramavam-se pelo chão. Meus pés corriam nas enxurradas. A água de outrora era a mesma de hoje? O mesmo H20? E eu? Sou ainda no tempo aquele menino descalço e feliz? Os amigos, onde estão todos? E Mariazinha, meu primeiro amor, onde andará?
     Na idade do lobo, meus uivos varam a noite. Um lobo, nem feroz e nem lobo. Apenas um menino antigo e um pouco cansado.
     Outrora, também, meus cabelos esvoaçavam ao vento. Meus pés pisavam a areia macia das praias. O mar antigo bramia na areia. E os peixes, há milhares de anos, já habitavam os oceanos. A maresia cheirava a um cheiro de fim de tarde. E na memória a melancolia de todos os sorrisos das mulheres amadas. Amadas, mal-amadas, descabeladas feiticeiras. Dançarinas de ventre que um dia meus olhos fitaram. Que um dia meus sonhos sonharam.

2 comentários:

  1. Tudo fica na lembrança.
    Mas na verdade carregamos muito da criança que fomos.
    Bjos e uma boa semana

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  2. Obrigado pelo comentário, Sonia. Um grande abraço.

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