quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ANTONIO VENTURA ESCREVE SOBRE LIVRO DE ANTONIO CARLOS SECCHIN

Algumas impressões sobre Memórias de Um Leitor de Poesia e Outros Ensaios



Ao poeta Antonio Carlos Secchin:


Há tempos estive visitando a editora Topbooks e tive a honra de receber do querido amigo e editor José Mario Pereira, o seu livro MEMÓRIAS DE UM LEITOR DE POESIA. O livro ficou alguns dias em minha escrivaninha, mas logo que o peguei em minhas mãos comecei a ler com inusitado prazer. Talvez porque em cada página que lia via antes um poeta falando de outros poetas, com paixão de alguém que sempre se maravilha quando descobre em algum baú perdido no tempo, um verso também perdido, desgarrado e fora da mística do livro e da história. Valendo aqui a citação do poeta Ricardo Silvestrin: “é no livro que o autor está enterrado vivo”. Isto é messiânico. Inefável, como diria Rilke.

Mas não vim até a sua presença para fazer qualquer juízo crítico de seu livro, pois para isto falta-me talento e arte. Para falar sobre seu livro mister seria escrever outro livro, na medida em que nele tantas circunstâncias do fazer poético são analisados, com serenidade, sensibilidade e conhecimento. No entanto, peço a sua liberdade para externar algumas impressões que mais me chamaram a atenção. Começo citando afirmações suas que estão no livro:

“Literatura é linguagem levada ao extremo”. “O poeta é um operário da linguagem”. “O poema sabe mais do que o poeta”. “Precisamos descobrir a quarta margem”.

E tomo a liberdade também de citar Drummond: “E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno”.

Realmente o poeta, como operário do canto, tem que suar e se aprimorar na linguagem, numa busca constante, até à exaustão. E como você afirma em seu livro, é conhecendo todas as épocas históricas e formais da literatura que podemos tentar um caminho próprio. Ao mesmo tempo temos de tomar o cuidado para não sermos prisioneiros da própria forma limitadora do poema. Antes de tudo, o poema é um pássaro e precisa de espaço livre para voar. Álvares de Azevedo, depois de adquirir depurada linguagem, até pôde dizer: “Odeio o pó que deixa a lima”. Na maturidade da linguagem o voo é livre, criador, valendo a sua afirmação: “O poema sabe mais do que o poeta”. E essa dualidade entre forma e voo, creio, encontra-se expressa neste verso de seu belo poema Biografia: “o poema vai nascendo, pombo de pluma e granito”.  O voo da pluma, da poesia, em seu estado latente, escondida no DNA do universo. Granito, o poema, como pedra bruta lapidada. Linguagem. Espaço concreto e encontrado da poesia.

Em parte de uma entrevista você afirmou:

“Não é possível ficar imune aos signos da globalização da cultura”. Esse é o grande desafio. E nesse desafio cabe aos poetas encontrar a quarta margem. E ainda, muito feliz sua afirmação, na qual me filio completamente: “Gosto de me alinhar com os desalinhados, os que não têm fórmulas para salvar a poesia, os que experimentam por necessidade e não por alinhamento grupal, os que não desclassificam a priori um poema pelo fato de ele vir em verso livre ou regular”.

Finalmente, gostei quando o crítico Antonio Carlos Secchin fala do poeta Antonio Carlos Secchin. Senti grande maturidade do poeta na leitura dos poemas: Biografia, com a imagem original do final do poema; do interessante poema Colóquio; Paisagem que comove pela luz e objetos de um mundo presente, e da bela imagem “Há um pássaro parado na garganta de Carmen”, em Aire, e do belíssimo Autorretrato. O poeta fala alto. É pássaro encantado.
                                                                      

                                                                       Antonio Ventura




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