segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

"MOCOCA 24h" REGISTRA A PARTICIPAÇÃO DE ANTONIO VENTURA NA POSSE DE FERREIRA GULLAR

Antonio Ventura na posse de Ferreira Gullar na Academia Brasileira de Letras
Cultura 


O poeta Ferreira Gullar (foto) tomou posse na sexta-feira, 5, como membro da Academia Brasileira de Letras, em solenidade no Petit Trianon, no Rio de Janeiro, passando a ocupar a Cadeira 37, que pertencia ao poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto em julho deste ano.

Convidados para a cerimônia de posse do novo imortal, os poetas mocoquenses Antonio Ventura, Débora Ventura – que lança livro em 2015 – e Toninho Ventura (foto) prestigiaram o evento, que lotou o Salão da Academia Brasileira de Letras.

Bastante emocionado, Antonio Ventura fez o seguinte relato ao mococa24horas a respeito da posse do poeta maranhense Ferreira Gullar, considerado um marco da poesia brasileira contemporânea:

“Na noite do dia 5 de dezembro de 2014, estávamos no Rio de Janeiro, adentrando o prédio da Academia Brasileira de Letras, eu, a Débora e o jovem poeta Toninho, meu filho, para assistirmos à Solenidade de posse de Ferreira Gullar a esta entidade. O Petit Trianon já estava completamente lotado por acadêmicos, escritores, poetas, artistas, jornalistas, políticos, demais autoridades e populares que em geral prestigiam a literatura.


Foi com alegria inusitada que encontramos no local os acadêmicos e poetas Carlos Nejar e Antonio Carlos Secchin (foto), dois prefaciadores de meus livros e do livro da Débora a ser lançado no começo de 2015, com os quais nutrimos amizade afetuosa.

Pontualmente às 21h deu início à Solenidade de posse, o Presidente Geraldo Holanda Cavalcanti, determinando que os acadêmicos Cícero Sandroni e Antônio Torres introduzissem ao recinto o neoacadêmico Ferreira Gullar.

Logo após, Ferreira Gullar foi convidado pelo Presidente a pronunciar seu discurso de posse, como manda a tradição. Em sua fala, inicialmente, disse Gullar:

"Aqui estou, feliz da vida, uma vez que, aos 84 anos de idade, começo uma nova aventura, tomo um rumo inesperado que a algum lugar desconhecido há de levar-me. Agradeço particularmente a alguns dos membros atuais que, durante anos, pela amizade que a eles me liga, insistiram incansavelmente para que me candidatasse à ABL, como Eduardo Portella, José Sarney, Antônio Carlos Secchin, Cícero Sandroni, Ana Maria Machado, sem contar os amigos que já se foram, como Antônio Houaiss, Jorge Amado e próprio Ivan Junqueira, a quem tenho a honra – mas não alegria, nestas condições – de substituir. Aproveito a ocasião para pedir-lhes desculpas por tanto ter me esquivado à sua paciente generosidade."

Depois Gullar enumerou e falou sobre as personalidades que o antecederam na Cadeira de número 37 e do respectivo patrono, Tomás Antônio Gonzaga, autor do célebre poema Marilia de Dirceu. Depois falou do fundador da Cadeira, Júlio da Silva Ramos, o primeiro a ocupá-la, e a seguir enumerou os demais: Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, João Cabral de Melo Neto, e terminou  seu discurso citando trecho de poema de Ivan Junqueira, seu antecessor.

“A luz da lucidez contra a treva do obscurantismo” - A seguir assumiu a tribuna o acadêmico e poeta Antonio Carlos Secchin, ensaísta e estudioso da rica obra literária de Ferreira Gullar. Com propriedade falou da obra e também de Gullar, como amigo e ser humano. Vale a pena destacar  trechos do discurso de Secchin:

"Toda vossa trajetória consistiu em perseguir e projetar esse rastro de luz por onde quer que passastes.  A luz da esperança  contra a sombria face de um  mundo hostil. A luz da alegria contra o sofrimento. A luz da lucidez contra a treva do obscurantismo. Ao lado do poeta que sois, convivem o dramaturgo, o ficcionista, o biógrafo, o cronista, o tradutor, o teórico e crítico de arte, o ensaísta, o artista plástico, o memorialista."

"Prefiro concentrar-me nos anos mais recentes, marcados por episódios felizes, como o recebimento da mais alta láurea desta instituição, o Prêmio Machado de Assis, em 2005; a obtenção do título de Doutor Honoris Causa, conferido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2010; no mesmo ano, vossa  vitória no Prêmio Camões;  no dia 9 de outubro de 2014, vossa eleição para a Casa de Gonçalves Dias, chamemo-la assim, em homenagem ao patrono da cadeira 15 e vosso conterrâneo. "
"Quero louvar a voz de um poeta maior que ingressa na Academia Brasileira de Letras. Com a tácita concordância de tantos confrades que lhe sufragaram o nome, despeço-me  com a citação de um verso em que você proclama  a vocação agregadora da palavra poética, convidando a que todos nela se reconheçam. Assim, compartilhando a alegria de sua chegada a esta Casa, ouso dizer que hoje 'Essa voz somos nós'.”

Sobre Ferreira Gullar – “Ferreira Gullar, cujo nome verdadeiro é José de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão, em 10 de setembro de 1930, numa família de classe média pobre. Dividiu os anos da infância entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Considera que viveu numa espécie de paraíso tropical e, quando chegou à adolescência, ficou chocado em ter que tornar-se adulto, e tornou-se poeta.

No começo acreditava que todos os poetas já haviam morrido e somente depois descobriu que havia muitos deles em sua própria cidade, a algumas quadras de sua casa. Passou então, já com seus dezoito anos, a frequentar os bares da Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo, onde, aos domingos, havia leitura de poemas.

Descobriu a poesia moderna apenas aos dezenove anos, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Ficou escandalizado com esse tipo de poesia e tratou de informar-se, lendo ensaios sobre a nova poesia. Pouco depois, aderiu a ela e adotou uma atitude totalmente oposta à que tinha anteriormente, tornando-se um poeta experimental radical, que tinha como lema uma frase de Gauguin: “Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés”.

Ou seja, nada de fórmulas: o poema teria que ser inventado a cada momento. “Eu queria que a própria linguagem fosse inventada a cada poema”, diria ele mais tarde. E assim nasceu o livro que o lançaria no cenário literário do país em 1954: A Luta Corporal. Os últimos poemas deste livro resultam de uma implosão da linguagem poética, e provocariam o surgimento na literatura brasileira da “poesia concreta”, de que Gullar foi um dos participantes e, em seguida dissidente, passando a integrar um grupo de artistas plásticos e poetas do Rio de Janeiro: o grupo neoconcreto.
O movimento neoconcreto surgiu em 1959, com um manifesto escrito por Gullar, seguido da Teoria do não-objeto, estes dois textos fazem hoje parte da história da arte brasileira, pelo que trouxeram de original e revolucionário. São expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, hoje nomes mundialmente conhecidos.

Gullar, por sua vez, levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o livro-poema e, depois, o poema espacial, e, finalmente, o poema enterrado. Este consiste em uma sala no subsolo a que se tem acesso por uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; ao levantarmos este cubo, encontramos outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.

O poema enterrado foi a última obra neoconcreta de Gullar, que afastou-se então do grupo e integrou-se na luta política revolucionária. Entrou para o partido comunista e passou a escrever poemas sobre política e participar da luta contra a ditadura militar que havia se implantado no país, em 1964. Foi processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve que abandonar a vida legal, passar à clandestinidade e, depois, ao exílio. Deixou clandestinamente o país e foi para Moscou, depois para Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.

Voltou para o Brasil em 1977, quando foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, voltou a trabalhar na imprensa do Rio de Janeiro e, depois, como roteirista de televisão.
Durante o exílio em Buenos Aires, Gullar escreveu Poema Sujo – um longo poema de quase cem páginas – que é considerado a sua obra-prima. Este poema causou enorme impacto ao ser editado no Brasil e foi um dos fatores que determinaram a volta do poeta a seu país. Poema Sujo foi traduzido e publicado em várias línguas e países.

De volta ao Brasil, Gullar publicou, em 1980, Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então. Voltou a escrever sobre arte na imprensa do Rio e São Paulo, publicando, nesse campo, dois livros Etapas da arte contemporânea (1985) e Argumentação contra a morte da arte (1993), onde discute a crise da arte contemporânea.

Outro campo de atuação de Ferreira Gullar é o teatro. Após o golpe militar, ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao regime autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? De volta do exílio, escreveu a peça Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa Grande em 1978.

Mas Gullar afirma que a poesia é sua atividade fundamental. Em 1987, publicou Barulhos e, em 1999, Muitas Vozes, que recebeu os principais prêmios de literatura daquele ano. Em 2002, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura”, informa em nota a Academia Brasileira de Letras.

(Fotos: divulgação)

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