quarta-feira, 8 de outubro de 2014

OUTRORA 2

Poema do livro O GUARDADOR DE ABISMOS

Antigamente, havia o sol e as mangueiras em minha infância, as calças curtas, os suspensórios xadrezes coloridos, as mangas-rosa e comuns amarelas na mangueira de nosso Deus, a roça com seus arrozais, e principalmente o riozinho que passava no fundo do quintal, ah, aquilo era o Éden perdido na terra!
No riozinho a meninada nadava nua, uns jogavam barro nos outros e tudo era bonito. Não havia tempo em nossos olhos, porque do mundo não sabíamos além do horizonte, porque além do rio o mundo era muito grande, maior do que as estrelas da noite! Havia duas menininhas branquinhas de tão loiras que eu namorava no meio da horta, escondidos numa capoeirinha. Naquele tempo, a gente sabia namorar, principalmente porque não sabíamos namorar, só ficávamos abraçados, fingindo de marido e mulher e dizíamos que, quando a gente crescesse, iria se casar. Onde, agora, andarão as duas meninas branquinhas de minha infância, de cujos nomes nem me lembro? Não importa saber, só importa é sentir esta onda de ternura perdida no tempo. Ah! Eu vivia ao leste do Éden e não sabia!


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