Poema do livro O GUARDADOR DE ABISMOS
Antigamente, havia o sol e
as mangueiras em minha infância, as calças curtas, os suspensórios xadrezes
coloridos, as mangas-rosa e comuns amarelas na mangueira de nosso Deus, a roça
com seus arrozais, e principalmente o riozinho que passava no fundo do quintal,
ah, aquilo era o Éden perdido na terra!
No riozinho a meninada nadava nua, uns
jogavam barro nos outros e tudo era bonito. Não havia tempo em nossos olhos,
porque do mundo não sabíamos além do horizonte, porque além do rio o mundo era
muito grande, maior do que as estrelas da noite! Havia duas menininhas
branquinhas de tão loiras que eu namorava no meio da horta, escondidos numa
capoeirinha. Naquele tempo, a gente sabia namorar, principalmente porque não
sabíamos namorar, só ficávamos abraçados, fingindo de marido e mulher e
dizíamos que, quando a gente crescesse, iria se casar. Onde, agora, andarão as
duas meninas branquinhas de minha infância, de cujos nomes nem me lembro? Não
importa saber, só importa é sentir esta onda de ternura perdida no tempo. Ah!
Eu vivia ao leste do Éden e não sabia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário ou mensagem para o autor.