* POEMA PUBLICADO NO LIVRO "
O GUARDADOR DE ABISMOS".
Para José Mario Pereira
As palavras aparecem mágicas, no momento preciso
de seu parto. No segundo mágico de seu parto. Na hora exata de seu parto. No
momento único de nascença. Não sabemos exatamente de onde vêm as palavras,
símbolos da noite indormida. Uma música vem ao longe, vem perto. O ventilador
no teto é uma parábola, símbolo da vontade da matéria que gira e venta como as
brisas que ventavam em minhas manhãs de criança
correndo ao vento igual às árvores que ventavam ao som das folhas verdes. Ah,
como amo as palavras que nunca foram minhas, assim como nunca foram meus os
ventos e o sol e a chuva e as brisas! Ah, houve um momento em que acreditei que
as palavras fossem minhas. Eu dizia: sol!, e pensava que a palavra sol fosse
minha, embora eu possa cultivar a vaidade de dizer que numa tarde eu vi o pôr
do sol, palavra que não era minha mas que estava no horizonte vermelho o pôr do
sol ao cair da tarde. Ah, cultivei a doce vaidade em dizer que um dia fui
criança e vi o rio que passava no fundo de minha aldeia e vi o sol que nascia
todo dia atrás das bananeiras e então pensei que o sol fosse uma coisa mágica
igual à palavra sol. Depois tive a vaidade de ver a palavra sol, quando tinha
sol, e a palavra lua quando tinha lua, e chuva, quando chovia. Ah, as palavras
aparecem mágicas, no momento preciso de seu parto.
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