segunda-feira, 11 de agosto de 2014

É AMANHÃ

Falta apenas um dia para o lançamento do livro "O guardador de abismos" em São Paulo. Esperamos você
a partir das 18h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no mezanino da loja de artes.

"O guardador de abismos" é apresentado por grandes escritores como o poeta e crítico Adriano Espínola e os imortais Carlos Nejar, Antonio Carlos  Secchin e Ivan Junqueira.

Leia, a seguir, as orelhas de Adriano Espínola e Ivan Junqueira.


O GUARDADOR DE POESIA

Por Adriano Epínola
poeta e crítico literário

Em 2011, Antonio Ventura lançou O catador de palavras, no qual reuniu seus sete primeiros livros. Com este O guardador de abismos, nesta agora posição de poeta-guardador, pode-se dizer que o autor cumpre seu ofício de forma exemplar.
Porque privilegia antes de tudo a memória para recriar a matéria de seu canto. E o faz valendo - se igualmente da imaginação transfiguradora, tornada eficaz pelo vigor da linguagem.
Também há de se ressaltar a capacidade de observação dos seres e das coisas, em que as notações sensoriais do espaço e do tempo, bem como dos elementos da natureza, se fazem presentes. Entretanto, creio que é diante da finitude temporal do ser que o autor se volta de forma mais incisiva e não menos angustiada, refletindo de certo aquela “pressão do infinito” (Bloy), tal como se dá na perturbadora narrativa que dá título ao volume.
Retomando o poema em versos, na parte final, o autor homenageia vários poetas brasileiros da atualidade, mas termina nos brindando com primorosos poemas, “Eu e o tigre”, “Não importa” e “O círculo dourado” (“... e dentro o animal iluminado”). Este animal iluminado não é outro senão a própria poesia, aqui retida por este exímio guardador de abismos.

OS ABISMOS DA PROSA POÉTICA

Por Ivan Junqueira
da Academia Brasileira de Letras

Ao concluir a leitura de O guardador de abismos, do poeta paulista Antonio Ventura, a primeira pergunta que me ocorre é a seguinte: a que gênero literário de nosso tempo pertenceriam esses textos? Inclino-me aqui a considerá-los como tangenciais à categoria algo evanescente da prosa poética ou à do poema em prosa. Em carta dirigida a Arsène Haussaye, pergunta o autor de As flores do mal: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética musical, sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”
Creio que foi isso, acima de tudo, o que pretendeu Antonio Ventura em seus textos, nos quais avulta uma indisfarçada obsessão pela fugacidade do tempo, pelos desmandos do vento, pela intensa prática intertextual (Drummond,Pessoa, João Cabral, García Lorca, Heráclito, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cervantes) e pelo branco, essa não-cor na qual se entrelaçam todas as cores e que, na Commedia dantesca, dá origem àquela intolerável luz que banha a sua metáfora do branco. Assim como ocorre nos poemas em prosa de Baudelaire, percebe-se em O guardador de abismos uma nítida despreocupação seja com o ritmo, seja com a rima, e, ao contrário, uma incessante busca por aqueles contrastes que tentam adaptar sua prosa “aos movimentos líricos da alma” e “às ondulações do devaneio”.


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