Falta apenas um dia para o lançamento do livro "O guardador de abismos" em São Paulo. Esperamos você
a partir das 18h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no mezanino da loja de artes.
"O guardador de abismos" é apresentado por grandes escritores como o poeta e crítico Adriano Espínola e os imortais Carlos Nejar, Antonio Carlos Secchin e Ivan Junqueira.
Leia, a seguir, as orelhas de Adriano Espínola e Ivan Junqueira.
O GUARDADOR DE POESIA
Por Adriano Epínola
poeta e crítico literário
a partir das 18h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no mezanino da loja de artes.
"O guardador de abismos" é apresentado por grandes escritores como o poeta e crítico Adriano Espínola e os imortais Carlos Nejar, Antonio Carlos Secchin e Ivan Junqueira.
Leia, a seguir, as orelhas de Adriano Espínola e Ivan Junqueira.
O GUARDADOR DE POESIA
Por Adriano Epínola
poeta e crítico literário
Em 2011, Antonio Ventura lançou O catador de palavras, no
qual reuniu seus sete primeiros livros. Com este O guardador de abismos, nesta agora
posição de poeta-guardador, pode-se dizer que o autor cumpre seu ofício de
forma exemplar.
Porque privilegia antes de tudo a memória para recriar a
matéria de seu canto. E o faz valendo - se igualmente da imaginação
transfiguradora, tornada eficaz pelo vigor da linguagem.
Também há de se ressaltar a capacidade de observação dos
seres e das coisas, em que as notações sensoriais do espaço e do tempo, bem
como dos elementos da natureza, se fazem presentes. Entretanto, creio que é
diante da finitude temporal do ser que o autor se volta de forma mais incisiva
e não menos angustiada, refletindo de certo aquela “pressão do infinito” (Bloy),
tal como se dá na perturbadora narrativa que dá título ao volume.
Retomando o poema em versos, na parte final, o autor
homenageia vários poetas brasileiros da atualidade, mas termina nos brindando com
primorosos poemas, “Eu e o tigre”, “Não importa” e “O círculo dourado” (“... e
dentro o animal iluminado”). Este animal iluminado não é outro senão a própria
poesia, aqui retida por este exímio guardador de abismos.
OS ABISMOS DA PROSA POÉTICA
Por Ivan Junqueira
da Academia Brasileira de Letras
Ao concluir a leitura de O guardador de abismos, do poeta
paulista Antonio Ventura, a primeira pergunta que me ocorre é a seguinte: a que
gênero literário de nosso tempo pertenceriam esses textos? Inclino-me aqui a
considerá-los como tangenciais à categoria algo evanescente da prosa poética ou
à do poema em prosa. Em carta dirigida a Arsène Haussaye, pergunta o autor de
As flores do mal: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o
milagre de uma prosa poética musical, sem ritmo e sem rima, bastante maleável e
bastante rica de contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às
ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”
Creio que foi isso, acima de tudo, o que pretendeu Antonio
Ventura em seus textos, nos quais avulta uma indisfarçada obsessão pela
fugacidade do tempo, pelos desmandos do vento, pela intensa prática
intertextual (Drummond,Pessoa, João Cabral, García Lorca, Heráclito, Clarice
Lispector, Lygia Fagundes Telles, Cervantes) e pelo branco, essa não-cor na
qual se entrelaçam todas as cores e que, na Commedia dantesca, dá origem àquela
intolerável luz que banha a sua metáfora do branco. Assim como ocorre nos
poemas em prosa de Baudelaire, percebe-se em O guardador de abismos uma nítida
despreocupação seja com o ritmo, seja com a rima, e, ao contrário, uma
incessante busca por aqueles contrastes que tentam adaptar sua prosa “aos
movimentos líricos da alma” e “às ondulações do devaneio”.
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