segunda-feira, 16 de junho de 2014

O GUARDADOR DE ABISMOS, NOVO LIVRO DE ANTONIO VENTURA, GANHA CAPA E DUAS PÁGINAS NO JORNAL ENFIM

ENTREVISTA
Antonio Ventura:
“O Guardador de Abismos é uma obra essencialmente poética”

Jarbas cunha
Fotos: Renato Ventura

Um grande sucesso literário e social o lançamento, pelo poeta e membro da Academia Riberãopretana de Letras Antonio Ventura, do livro “O Guardador de Abismos”, sua mais nova obra, na última sexta-feira, 06 de junho, a partir das 19h00, na Livraria da Travessa, no Ribeirãoshopping.

O poeta – que já tinha lançado esse livro na Livraria da Travessa do Rio de Janeiro no último dia 7 de maio - autografou exemplares e falou com o publico enquanto, numa tevê de tela grande, eram exibidos depoimentos e leitura de seus poemas por poetas como Ferreira Gullar, Antonio Carlos Secchin e Carlos Nejar; admiradores como o deputado Welson Gasparini; autores como Menalton Braff e Eli Vietez Lisboa, entre outros.

Participaram dessa noite de autógrafos, entre outros, os jornalistas Divo Marino, José Mário Sousa, Edmo Bernardes e Saulo Gomes; o juiz de direito diretor do Forum Dr. Sylvio Ribeiro Neto; o juiz federal Augusto Martinez Perez; os advogados Ovídio Sandoval e Feres Sabino; o presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras, Nelson Jacintho e a ex-presidente Rosa Maria de Brito Cosenza; a professora Normândia Augusta de Lima Parisi; a fiscal fazendária Maria Julieta Cunha Galvão Pereira (ao lado do seu marido, Jonas Cardoso Pereira) e o médico Carlos Roberto Ferriani.

Editado pela Topbooks, “O Guardador de Abismos” reúne cerca de 90 textos, entre crônicas, contos, poemas em prosa e prosa poética, nos quais o autor navega com mestria pelos  meandros da palavra e linguagem. Radicado há mais de 10 anos em Mococa, onde se casou com a ex-vereadora Débora Ventura, Ventura , natural de Ribeirão Preto, é juiz de Direito aposentado. Ganhador do prêmio Governador do Estado de Conto e Poesia, da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo; também foi crítico de cinema e teatro na revista “Bondinho”.

Em 2011, publicou o livro de poesias “O Catador de Palavras” pela Topbooks, muito bem recebido pela crítica e ainda um sucesso de vendas nas livrarias de todo o país. Nesta entrevista para o ENFIM – já recuperado de um câncer no esôfago que o manteve sob tratamento nos últimos três anos -, Ventura fala desse seu atual lançamento, do anterior e também dos seus projetos futuros.

“Num fôlego só o leitor pode ler todo o livro”

Enfim – Como você resumiria O guardador de abismos?

Antonio Ventura – O guardador de abismos é uma obra essencialmente poética, não obstante em sua maior parte ser considerada poesia em prosa. Fala dos abismos da existência humana (viver é belo e perigoso), traz à tona os questionamentos sobre o universo, a eternidade e a brevidade do homem, diante desta imensidão de estrelas. E o grande horror de sabermos que fomos há milênios, mas estamos estupefatos com o agora, o é.

Enfim – O que diferencia este “O guardador de abismos” de “ O catador de palavras”?

Ventura – O catador de palavras, meu primeiro livro, na verdade reúne em seu bojo, sete livros. É uma obra poética densa, caudalosa. O guardador de abismos já é uma obra onde a linguagem, embora poética, é mais livre, muito embora não deixe de ter uma certa densidade. Num fôlego só o leitor pode ler todo o livro.

“A ideia que mais me fascina é escrever O livro da Alegria, que seria um canto à borbulhante vida”
Enfim – Você já tem planos para um terceiro livro. Qual seria o título?

Ventura - Já estou pensando no próximo livro. Surgiram vários títulos, por exemplo: O cubículo. Seria um pequeno espaço em que o escritor escreve, diante do grande cubículo que é o universo. Seria abarcado o macro e o micro, as grandes constelações como também o universo de uma formiga carregando minúscula folha. Até o universo dos microorganismos.

Outra ideia: Os reféns. Não apenas no sentido estrito, mas num sentido mais amplo, pois de alguma forma cada um é refém de alguma coisa. Mas a ideia que mais me fascinou e ainda fascina é escrever O livro da Alegria, que seria um canto à borbulhante vida, um canto ao sol ardente dos dias e às coisas que nos rodeiam. Preciso apenas parar para achar o fio da meada, o caminho onde as palavras aparecem livres e exatas. Onde o autor não busca, mas a obra busca o autor.

Enfim – Aposentando- se como Juiz de Direito, nunca pensou em advogar? A opção pela literatura é definitiva?

Ventura - Cheguei a ter a carteira profissional da Ordem dos Advogados do Brasil, mas praticamente nunca exerci esta nobre atividade. Agora, a minha única opção de minha vida é a literatura. Desde os treze anos de idade, quando comecei a escrever, meu grande sonho sempre foi a literatura. A literatura para mim é como o ar que respiro. Nunca parei de escrever. Acontece que ainda moço, minha geração, que começava a florir foi interrompida em seus  sonhos pela implantação no Brasil da ditadura militar. Você para editar um livro, mesmo de poesia, precisava enviar os originais para a censura em Brasília. Se em época de plena liberdade já é difícil ser editado no Brasil, imagine naqueles tempos de chumbo. Por isso é que fiz parte da geração 70, chamada também de geração marginal (pois estávamos à margem de qualquer possibilidade de publicação, ou quase nenhuma) ou geração mimeógrafo. Os jovens escritores e poetas mimeografavam seus textos e os vendia de mão em mão. Dessa forma eu morei no Rio de Janeiro e por mais de quatro anos eu vendi meus poemas mimeografados dentro do Teatro Ipanema, nos bares, nos restaurantes.

Enfim – A literatura ajudou-o a superar os problemas de saúde que você teve recentemente?

Ventura – A literatura foi sempre o meu alimento, minha energia, meu sol. É o meu respirar. Sempre me ajudou e alimentou meu corpo, meu espírito e minha alma. Alimenta o chão onde piso. É pão sagrado que rejuvenesce.

Enfim – Quais suas principais referências literárias? Quando começou a escrever se inspirou em algum autor?

Ventura – Comecei a escrever com treze anos, no primeiro ginasial. Era minha professora  a hoje escritora Ely Vieitez Lisboa, que escreveu na lousa negra um soneto de nosso poeta romântico Álvares de Azevedo, chamado Na minha terra. Dizia do vento sussurrante a tremer nos pinheiros, a cantiga do pobre caminhante ao rancho dos tropeiros, e a lua que vinha pálida na praia luzir... Soneto cheio de imagens e significados.  Foi meu primeiro alumbramento.

Daí comecei a escrever no estilo dos românticos brasileiros, até conhecer um amigo, Antonio Carlos Morari, que na época já fazia o curso Clássico do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont, de Ribeirão Preto. 

Morari foi o meu mais ferrenho crítico. Arrasava meus poemas e me incentivava a ler os modernos poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto. Mas foi aí que comecei a depurar minha linguagem, trazê-la para os tempos da atualidade em que vivia, e aos quatorze anos escrevi meu primeiro poema moderno: Tédio. Daí posso informar minhas tendências literárias: os poetas do modernismo brasileiro, como também acredito que Rimbaud, poeta francês simbolista e um dos precursores do modernismo, tenha me influenciado bastante, com seu livro Uma temporada no inferno.

Depois mencionaria todos os grandes clássicos, como Shakespeare, assim como não poderia deixar de mencionar um dos maiores livros de poesia do mundo, o inigualável Assim falava Zaratustra, de Nietzsche. No romance mencionaria João Guimarães Rosa, este grande inovador da língua brasileira, o imortal Machado de Assis, Osman Lins, e como grande contista Lygia Fagundes Telles. Dos romancistas estrangeiros o grande Dostoiévski (Crime e castigo), e o universal e sempre atual romance Don Quixote de La Mancha, de Cervantes, e no realismo fantástico Jorge Luis Borges. Não posso deixar de citar O estrangeiro, de Alberto Camus etc.

“A literatura para mim é como o ar que respiro”

Enfim – Conte um pouco da sua vida; o seu passado como carteiro, os concursos que você prestou...

Ventura – Pois é, depois de mais de quatro anos vendendo poemas no Rio de Janeiro, onde publiquei meu primeiro livro mimeografado Reivindicação da eternidade, vendido também de mão em mão, voltei para Ribeirão Preto. Para sobreviver ia finais de semana vender poemas nos teatros de São Paulo.

Comecei a fazer o curso de Letras, mas parei em alguns meses. Nesse ínterim um amigo disse que os Correios abriu um concurso para carteiro, que era a maior mamata, pois entrava às 6h da manhã e às 8h já tinha acabado o serviço. Fiz o concurso e passei em primeiro lugar mas, na entrevista, não queriam me dar o cargo de carteiro, pois alegava o entrevistador que a função era incompatível para a minha pessoa que tinha uma certa cultura, já tinha exercido as funções de jornalista em uma revista em São Paulo, antes de ir para o Rio, ganhador de concursos literários... Mas lutei por meu direito de ser admitido pela Empresa dos Correios e lá fui eu, de roupa amarela, andar pelas ruas de Ribeirão Preto, de bicicleta, entregando cartas.

Foi o maior sofrimento, não pela condição de carteiro, mas que na verdade entrava às 6h da manhã e havia dia que até bem à tarde o serviço não acabava, e enquanto não acabava você não podia ir embora.
Fiquei três meses como carteiro, fiz um concurso interno e passei a Assistente de administração. Acabei ficando nos Correios por volta de quatro anos, quando fiz concurso de escrevente para o Fórum, passei e posteriormente passei no concurso de oficial de justiça, terminei o Curso de Direito na Unaerp e comecei a fazer concurso jurídicos para a carreira de Delegado de Polícia, Ministério Público e Magistratura. Entrei na Magistratura paulista em novembro de 1991. Fui Juiz de Direito em Martinópolis, Pereira Barreto, Mococa e me aposentei como Juiz Auxiliar da Capital.

Enfim – Quais, até agora, seus maiores incentivadores?

Ventura – Como meus maiores incentivadores começo a citar a minha primeira professora do ginasial, hoje escritora Ely Vieites Lisboa, que descobriu o menino poeta. Também daquela época o saudoso professor Vicente Teodoro de Souza. Meu crítico implacável Antonio Carlos Morari, colega de juventude. Depois posso mencionar a escritora Lygia Fagundes Telles, com a qual troquei correspondências literárias em meu início como jovem poeta. Quero expressar minha gratidão aos escritores Mário Chamie, Álvares Alves de Faria, Saulo Ramos, Menalton Braff, Carlos Nejar, Antonio Carlos Secchin, Ivan Junqueira, Adriano Espínola, que prefaciaram meus livros.

E em especial agradecer o incentivo de minha família, ao Renato B. Ventura, a Nubia, ao Antonio P. Ventura, e agradecer a mulher amada, poeta Débora Ventura.

“De catador de palavras passou ao ofício de guardador de abismos”

(Dois depoimentos que enaltecem a obra de Ventura)

“O criador que é lido” - No prefácio ao livro, Carlos Nejar, poeta, ficcionista, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras, salienta: “Antonio Ventura não é um poeta a mais, entre tantos. Mas o criador que é lido, na medida em que lê o mundo. E inventar é ver por dentro do verso. E sua obra repete, porque inventa. Pensa imaginando. De catador de palavras, passou ao ofício de guardador de abismos. O primeiro movimento era de fora para dentro, agora é de dentro para fora. Antes plantou, agora aprofunda e depura o que plantou.

Afirma num fulgurante texto, um dos mais belos do livro: “Ainda hoje passarei por cima dos peixes”. O poeta, aqui pesca, molhando os pés dos signos. Nada é fácil, já que “o destino da nuvem é ser livre dentro de seus limites”. E o limite da nuvem é o voo. E o do voo, a leveza da palavra, a suficiente inocência de arrebatar da lei da gravidade. Amar é isso”. 

“Comovente relato” – Já para o poeta, ensaísta, crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras, Antônio Carlos Secchin, “O guardador de abismos, de Antonio Ventura, é, no seu conjunto, um comovente relato dos encontros e desencontros de um homem com sua própria infância. As três partes da obra são atravessadas pelo mesmo sopro lírico, que transforma o poeta (ainda que em prosa) num ser tecido de água e vento. 

Na paisagem do passado, a imaginação líquida e gasosa de Ventura nos convida ao êxtase frente ao fluxo intérmino do pequeno rio, nos convoca à fruição auditiva e amorosa dos pingos da chuva no telhado, à contemplação das nuvens, sem esquecer o presente, traduzido nas vigorosas celebrações da amada, ou ainda o desencantado olhar ao futuro, num lamento em surdina diante das coisas que escapam a nosso controle e desejo.“Após o belo O catador de palavras (2011), O guardador de abismos é confirmação do talento – em verso & prosa – de Antonio Ventura.





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