quinta-feira, 17 de abril de 2014

MINHA NAMORADA LOUCA OU O MORADOR DO PÂNTANO*

* Este poema faz parte do livro O GUARDADOR DE ABISMOS.

Minha namorada é louca. Hoje, na festa, ela trepou em meu dorso e nadamos pelo pântano. Ela ria e dançava desesperadamente, coberta de musgos, pelas campinas sem sol e sem noite. Mas minha namorada é louca. Ela não descobriu que sou um menino, porque tenho uma  lambreta. Minha namorada é linda, mas de sua boca escorre chope e tempo. Hoje, na festa, deitamo-nos no chão molhado para que os presentes passassem por cima. Mas minha  namorada é louca. Hoje ela se deitou nua sobre a grama, eu fui beijar o seu corpo branco e lindo, coberto de musgos. Então, nunca vi uma namorada fitar o horizonte com tamanho espanto. Mas minha namorada é louca. Matamos nossa fome com as flores do pântano, depois ela deixou os resíduos nas estrelas de nossas mãos. Mas minha namorada é louca. Ela arrancou meus olhos, para que seu corpo escurecesse. De meus olhos nasceram pântanos que correram para os esgotos do tempo como a beleza e os flagelos. Odiei minha namorada, porque ela é louca, completamente louca. Então, com meu corpo tremendo de amor, com minhas mãos molhadas de ódio e musgos, saio correndo pela avenida, chorando  desesperadamente a cidade, seus heróis, suas vítimas e suas crianças.

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