* Este poema faz parte do livro O GUARDADOR DE ABISMOS.
Minha namorada é louca. Hoje, na festa, ela trepou em meu
dorso e nadamos pelo pântano. Ela ria e dançava desesperadamente, coberta de
musgos, pelas campinas sem sol e sem noite. Mas minha namorada é louca. Ela não
descobriu que sou um menino, porque tenho uma
lambreta. Minha namorada é linda, mas de sua boca escorre chope e tempo.
Hoje, na festa, deitamo-nos no chão molhado para que os presentes passassem por
cima. Mas minha namorada é louca. Hoje
ela se deitou nua sobre a grama, eu fui beijar o seu corpo branco e lindo,
coberto de musgos. Então, nunca vi uma namorada fitar o horizonte com tamanho
espanto. Mas minha namorada é louca. Matamos nossa fome com as flores do
pântano, depois ela deixou os resíduos nas estrelas de nossas mãos. Mas minha namorada
é louca. Ela arrancou meus olhos, para que seu corpo escurecesse. De meus olhos
nasceram pântanos que correram para os esgotos do tempo como a beleza e os
flagelos. Odiei minha namorada, porque ela é louca, completamente louca. Então,
com meu corpo tremendo de amor, com minhas mãos molhadas de ódio e musgos, saio
correndo pela avenida, chorando desesperadamente
a cidade, seus heróis, suas vítimas e suas crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário ou mensagem para o autor.