domingo, 12 de maio de 2013

MÃE DA GENTE*


*in memorian a minha mãe Leodora Cândida da Silva


 


Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança perdida no espaço,
entre a essência do vegetal e o ferver dos metais,
pois estamos perdidos no espaço.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança alimentada
pelo alimento da terra nascida
na noite sem termo.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança que teve fome
e sede e gestos após o grito
liberto da janela sem som.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança de ventre milenar
gerador de alegres e malditos
para as noites e as manhãs de cristal.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança nascida para o amor
na arquitetura da lágrima e do sonho,
pois nascemos para o amor.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança que do gozo, da dor
e do espasmo, amamentou em seus seios
a humanidade enfraquecida.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança, minha irmã remota
que colheu frutos apodrecidos
na terra em transe.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança, minha irmã remota
que assentou em seus joelhos
os meninos ilhados.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança de formas estranhas:
eu a vejo nas partículas das montanhas,
dos rios, da água, do alimento, do fogo.

Mãe da gente gerada no tempo,
trágica criança que na lágrima e no sonho
e que por tão longo amor, guarda
na carne a manhã que virá.

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