terça-feira, 2 de abril de 2013

POEMA DE DÉBORA VENTURA NA REVISTA PONTO E VÍRGULA

Novos Talentos

A poeta Débora e outros
poemas

Antonio Ventura

A poeta Débora não nasceu no Sertão, mas no Sertão buscou os olhos de Maria, viu a vida seca de Maria, os filhos de Maria comendo os xiquexiques cozidas na água e sal, com gosto de nada, como a vida de Maria e de todas as Marias perdidas nos Sertões brasileiros. Nesse poema Sertão, Débora espelha sua alma de guerreira.

Em outros poemas Débora conversa com o vento, num banco de uma pracinha qualquer. Porque o vento vem sempre procurar a poeta para sussurrar as coisas do mundo. Em outro poema Débora apenas na noite quer caminhar, pois o destino da poeta é caminhar na noite, simplesmente caminhar.
Em outro poema Débora indaga sobre a existência do mar batendo espumas na pedra, e em outro, fala
dos jardins com frutos dourados e suas maçãs.
Em outro poema...

Querida Débora, deixo aqui para você o meu amor, que trago nas conchas de minhas mãos.

Sertão
(Débora Soares Perucello Ventura)

Maria, mulher guerreira, sofrida,
trava todos os dias uma guerra interminável com
o dia.

Como se fosse possível, é uma flor do sertão,
a flor que vinga, que cresce e dá frutos,
frutos que vingam também do ventre seco de
Maria.

Os olhos de Maria, ninguém os tem,
são olhos marejados de lágrimas, sol e pó;
única água derramada sob esta terra seca,
rachada, enrugada,
tal qual o rosto de Maria,
mas é água salgada, como se fosse possível
minar algo doce dos olhos de Maria.

Xiquexiques, palmeiras, frutos desta terra,
que ora alimentam gado, ora alimentam Maria,
frutos abençoados que salvam,
que vingam desta terra, brotam dela
tal qual os seios de Maria.

Plantas estas cozidas na água e sal com gosto de
nada,
o mesmo nada que preenche o coração de Maria
e alimenta os filhos de Maria.



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