terça-feira, 30 de outubro de 2012

HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR

 ( Leia, na semana que vem:
 Segunda homenagem a Clarice Lispector).



"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi, e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo desta desorganização profunda."

- Clarice Lispector (A paixão segundo G.H.)

A vida, antes de qualquer dever, é uma paixão medonha, não somente a de G. H. Também porque creio, amor, que esta vida para viver, é muito mais anterior a nós e nossas vãs filosofias, nosso comércio, nosso pão suado de cada dia.

Não, amor, nós não somos a vida, somos apenas seus filhos bastardos, aparentemente felizes.

Um dia dei um grito profundo, me tiraram de uma placenta ensanguentada, (e a vida, ah, já existia há tanto tempo!) então me fiz humano e pequeno, amor; por isso peço a tua mão; porque tenho carência dela para andar por cima das pedras, atravessar o asfalto, para não ficar sozinho na solidão das grandes cidades.
                                                                         



A provação não sou eu que a faço, veja bem, amor. Apenas provo a água que me estendes com tuas mãos generosas; então eu sou água e sou líquido, e sou sólido, e vivo.

O caminho da vida, amor, progride, mas até hoje não sabemos exatamente se através de nossos pés humanos, nossas mãos cheias de erros, nossa memória esquecida do que há de mais belo nos livros ou naquele único livro.

Comotu, amor, não quero que a vida tenha direitos nem deveres, sempre tão sujeitos a dúvidas. Quero apenas, agora, tuas maõs ausentes cheias de paixão, mas vivas, a tocar o caminho da eternidade que, através dos símbolos, me ensinaram o caminho da alegria difícil, contudo alegria.
Dá-me tua mão.

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